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 1888

As pessoas geralmente desejam que seus amigos tenham um feliz ano novo e, às vezes, “próspero” é acrescentado a “feliz”. Não há muitas chances de que a felicidade ou a prosperidade venham ao encontro daqueles que vivem para a Verdade sob o número sombrio de 1888; mas, ainda assim, o ano é anunciado pela gloriosa Vênus-Lúcifer, a brilhar de forma tão resplandecente que tem sido confundida com outra visitante ainda mais rara, a estrela de Belém. Certamente que, com isso também presente, algo do princípio Christos deve nascer sobre a terra em tais circunstâncias. Mesmo que a felicidade e a prosperidade estejam ausentes, é possível encontrarmos algo maior que ambas neste próximo ano. Vênus-Lúcifer é a patrona de nossa revista e como escolhemos vir à luz sob seus auspícios, também desejamos tocar a sua nobreza. Isso é possível para todos nós individualmente, e, em vez de desejarmos um próspero ou feliz ano novo a nossos leitores, sentimo-nos mais propensos a pedir-lhes que tornem o ano digno de seu arauto brilhante. Isto pode ser realizado por aqueles que são corajosos e resolutos. Thoreau destaca que há artistas da vida, pessoas que podem mudar a cor do dia e torná-lo belo para aqueles com quem têm contato. Nós afirmamos que há Adeptos, Mestres da vida, que a tornam divina, como a todas as outras artes. Não seria a maior de todas as artes esta, que afeta a própria atmosfera na qual vivemos? Que se trata da mais importante percebemos de imediato ao nos lembrarmos de que cada pessoa que respira o sopro da vida afeta a atmosfera mental e moral do mundo e contribui para colorir o dia daqueles ao seu redor. Aqueles que não ajudam a elevar os pensamentos e as vidas dos outros devem, por necessidade, paralisá-los por indiferença, ou ativamente arrastá-los para baixo. Quando este último ponto é alcançado, a arte da vida se converte na ciência da morte; vemos o mago negro em ação. E ninguém pode ser inteiramente inativo.

Embora muitos livros e retratos ruins sejam produzidos, nem todos que são incapazes de escrever ou pintar bem insistem em fazê-lo de forma ruim. Imaginem o resultado se assim o desejassem! Entretanto, o mesmo se aplica à vida. Todos vivem, pensam e falam. Se todos os nossos leitores que têm alguma simpatia com Lúcifer se esforçassem em aprender a arte de tornar a vida não só bonita, mas também divina e se comprometessem a não mais serem levados pela descrença na possibilidade desse milagre, mas iniciassem a tarefa hercúlea de uma vez por todas, então 1888, por mais pouco auspicioso que seja o ano, seria devidamente conduzido pela estrela radiante.

A felicidade e a prosperidade nem sempre são as melhores companhias para mortais pouco desenvolvidos como a maior parte de nós; elas raramente trazem consigo a paz, que é o único contentamento permanente. A noção de paz é geralmente conectada com o fim da vida e um estado de consciência religiosa. Esse tipo de paz, porém, geralmente traz consigo o elemento da expectativa. Os prazeres deste mundo foram subjugados e a alma aguarda alegremente com a expectativa dos prazeres da próxima vida. A paz da mente filosófica é muito diferente e pode ser alcançada cedo na vida, quando os seus prazeres mal foram experimentados, bem como quando já foram completamente bebidos. Os transcendentalistas americanos descobriram que a vida poderia se tornar sublime sem auxílio sequer de circunstâncias ou fontes de prazer e prosperidade. É claro que isso já foi descoberto muitas vezes antes, e Emerson apenas assumiu novamente a súplica de Epiteto. Mas toda pessoa deve descobrir este fato novamente por si mesma, e uma vez tendo compreendido isto, ela sabe que será miserável caso não se esforce em tornar realidade esta possibilidade em sua própria vida.

O estoico se tornou sublime porque reconheceu a sua própria responsabilidade absoluta e não tentou fugir dela; o transcendentalista ainda mais, pois tinha fé nas possibilidades desconhecidas e não testadas dentro de si. O ocultista reconhece plenamente a responsabilidade e reivindica o seu título após ter testado e adquirido o conhecimento de suas próprias possibilidades. O teosofista que tem seriedade vê sua responsabilidade e esforços para encontrar o conhecimento, vivendo, nesse ínterim, de acordo com os padrões mais elevados de que tem consciência. A todos eles, Lúcifer os saúda! A vida do Homem está em suas próprias mãos, o seu destino pertence a si mesmo. Então, por que 1888 não deveria ser um ano de desenvolvimento espiritual maior do que todos em que vivemos anteriormente? Depende de nós mesmos para assim fazê-lo. Isto é um fato real, não um sentimento religioso.

Num jardim de girassóis, cada flor se volta para a luz. Por que não fazemos o mesmo? Que ninguém imagine se tratar de mero capricho dar importância ao nascimento do ano. A terra passa por suas fases definidas e o ser humano com ela; e se um dia pode ser colorido, um ano também pode. A vida astral da terra é jovem e forte entre o Natal e a Páscoa. Aqueles que formularem seus desejos agora terão força extra para realizá-los com diligência.

[Originalmente publicado em Lucifer, Vol. I, No. 5, Janeiro de 1888, pp.

337-338. Traduzido por Bruno Carlucci em dezembro de 2017].