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Suhrawardî d’Alep (Henry Corbin)

Este livro foi publicado em 1939, com o título Suhrawardî d’Alep, fondateur de la doctrine illuminative, pela Sociedade de Estudos Iranianos. A versão apresentada aqui foi reimpressa em 2005.
O primeiro capítulo trata de dados biográficos de Suhrawardî.
ver biografia
Os segundo e terceiro capítulos tratam das ideias do referido autor. Aqui estão algumas passagens do texto de Corbin, iniciando-se com a apresentação que faz da obra que o próprio Suhrawardî considerava como a sistematização completa de suas ideias, Kitabhikmat al ishrâq, ou O Livro da Sabedoria Oriental.

• A primeira parte da obra trata dos fundamentos do “pensar”, da reflexão intelectual (fikr) como um organon.
• A segunda [parte] é uma apresentação da Luz e da hierarquia das luzes, depois da Luz das Luzes, como Ser primordial e manifestação primordial, passando pelos graus de luzes arcangélicas até as luzes que são regentes das espécies e dos corpos.
• À luz regente do homem (e de cada homem) Sohrawardi dá o nome de Isfehbed.
• Alguns sábios, como Platão (Plotino)[1], Hermes, Agathodemon, Empédocles e, antes deles, os sábios da Índia e da Pérsia, conseguiram, isolando-se no templo de seus corpos, contemplá-las.
• A irradiação das Puras Luzes, que se multiplicam indefinidamente por reflexão e transparência, Suhrawardî chama de menôwiyat, o termo persa que corresponde a uma das grandes divisões dos seres em duas grandes classes: os Celestes e os Terrestres (em pehlevi: menôke gêtîk).
• Os sábios da Pérsia todos concordavam com que cada espécie, as esferas celestes, os elementos simples e seus compostos possuem um senhor no mundo da Luz, que é uma Inteligência separada, regente dessa espécie.
• Para eles, a água possuía um arquétipo no mundo espiritual, que eles chamavam Khurdâd; o das plantas era Murdâd, o do fogo, Ardîbîhîsht.
• A crítica à doutrina peripatética das Inteligências resulta na afirmação do ensinamento mais característico da religião zoroastriana: a angeologia.
• A angeologiaavesta engloba, com a hierarquia dos sete arcanjos superiores, as duas grandes classes de yazatas ou anjos: celestes e terrestres.
• A Luz é o que é essencialmente presente a si mesma, ou seja, revelação de si mesma a si mesma e “que não tem a necessidade nem a possibilidade de se conhecer por outra coisa que não seja ela mesma”. Senão, ela jamais teria consciência de si mesma como um sujeito que diz “eu”, mas se perceberia apenas como terceira pessoa, como um “ele”.
• Que tipo de relação é concebível entre essas puras Essências, que, procedendo da irradiação da Primeira Luz, engendrando ao infinito outras fontes de Luz?
• Cada essência possui seu Amado em direção ao qual tende seu desejo no mundo superior.
• Este [Amado] é uma luz arcangélica, “a causa a quem ela é submissa e que a auxilia com sua luz. Ela é seu mediador entre ela e o Verdadeiro supremo, de modo que é através dela que ela contempla as luzes divinas superiores”.
• Suhrawardî: “Entre essas luzes arcangélicas mediadoras do Verdadeiro Supremo existe uma que está conosco em uma relação de um Pai.”
• “Ela é o arquétipo, o Senhor de nossa espécie, o Doador de onde emanam as almas”.
• “Nós a chamamos Espírito Santo (ou ainda Gabriel), os filósofos a chamam de Inteligência Agente.”
• A vocação mística tem seu princípio em um chamado dirigido ao fundo íntimo da alma, não na progressão de uma evidência puramente intelectual.
• Eis agora um caminho mais seguro que o autor declara que não deduziu por reflexão abstrata, mas conheceu por uma outra prova.
• Esse caminho, designado como deleite interior, é o do Imã da Sabedoria, Platão (leia-se Plotino), benéfica e luminosa, a dos antigos sábios da Pérsia.
• Todos os discursos desses antigos tinham a forma de similitudes.
• O sábio de Deus por excelência é aquele que une ao conhecimento das teses filosóficas uma experiência interior do ensinamento místico.
• Suhrawardî insiste em que é preciso reconhecer a verdade das profecias.
• As similitudes mostram a realidade.
• O Corão testemunha isso: “Nós nos servimos dessas imagens, mas apenas os sábios as compreendem”.
• Gabriel marca o limite do mundo do homem além do qual ele não possui mais conhecimento possível sem seu auxílio.
• A passagem para o discurso em similitudes institui uma relação que só torna possível uma revelação.
• Sohrawardi declara: “Leia o Livro com o êxtase do coração (wajd), a emoção interior (tarab) e a reflexão sutil. Leia o Corão como se ele tivesse sido revelado apenas para você mesmo”.
• Essa tese individualiza a verdade de toda interpretação, impede que se degrade na generalidade de um símbolo.
• O que se realiza é a realidade do testemunho do Único.
• O místico deve esquecer seu próprio eu, esquecer mesmo seu esquecimento.
• Suhrawardî: “Enquanto os homens se contentam com o ato de conhecer, eles ainda estão aquém do objetivo.”
• A unificação do Único não se realiza por um processo simplesmente de acordo com a conjunção do intelecto humano com a Inteligência Agente da qual falam os filósofos puros.
• O véu é ele mesmo a condição da busca, mas é o “eu”, é a criatura que é, ela mesma, esse véu que, então, deve aceitar se sacrificar, ser “retirado”.
• Hallaj: “É mostrado a ti um segredo que foi durante muito tempo oculto de ti. Uma aurora surge, e és tu que lanças sombras sobre ela ainda. És tu que vela em teu coração o íntimo de seu mistério, e se não fosses tu, teu coração não seria selado.”
• Hallaj: “Saiba que o homem que proclama a Unidade de Deus afirma a si mesmo. Contudo, afirmar a si mesmo é se associar implicitamente a Deus. Na realidade, é Deus mesmo que proclama sua Unidade pela boca de quem ele quer dentre suas criaturas”.
• A impossibilidade de mostrar Deus como um objeto corresponde à abolição de todas as prerrogativas intelectuais ou sensíveis que constituem o eu, o que quer dizer o despojamento, a espoliação do intelecto e mesmo do coração.
• Hallaj pede a Deus: “Retira com o teu ‘eu sou’ o meu ‘eu sou’ de entre nós dois”.
• Sohrawardî: “Quando a terra do coração deles [Bistami e Hallaj] ardia com a luz de seu Senhor, eles revelaram o segredo patente e oculto”.
• “É Deus que os faz falar, é ele que torna todas as coisas falantes, porque é a Realidade-Divina que fala pela língua de seus santos”.
• Essa Sabedoria exige e engendra um discurso em similitudes, porque ela é um evento real no qual a alma é tomada e abrangida pela luz que a antecede e a governa, e não uma visão teórica. É um evento real.

[1] Em EnIslamIranien, Corbin explica que, neste contexto, quando Suhrawardî refere-se a Platão, está se referindo ao texto Teologia de Aristóteles, que, na verdade, se trata de passagens das Enéadas, de Plotino.
[2] Também chamada de Xvarnah.