GEORGE ROBERT STOWE MEAD

(1863-1933)

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APOLÔNIO DE TIANA – Sábio, Profeta e Renovador dos Mistérios

Na obra APOLÔNIO DE TIANA – Sábio, Profeta e Renovador dos Mistérios, George Mead relata a vida deste importante filósofo neopitagórico que viveu no séc. I d.C. Mead baseou-se em A Vida de Apolônio de Tiana, escrita por Flávio Filostrato, em 216, única biografia, dentre as várias que foram escritas, que chegou até nós. Filostrato foi membro da corte da imperatriz filósofa Júlia Domna, esposa de Severo Sétimo e Caracala, que lhe forneceu o diário de um dos discípulos de Apolônio, Dâmis, que o acompanhou em suas viagens, inclusive à Índia. Além do diário, Filostrato teve acesso a cartas e a relatos de pessoas que conviveram com Apolônio, inclusive de um tutor do Templo de Esculápio, em Ege.

Extratos:

Apolônio nasceu em Tiana, uma cidade no sul da Capadócia, nos primeiro anos da era cristã.

Com a idade de quatorze anos foi enviado a Tarso, um centro de instrução […] e rapidamente partiu para Aegae (Ege), uma cidade na costa, à leste de Tarso.

Tornou-se muito ligado aos sacerdotes do templo de Esculápio, onde curas ainda eram efetuadas, e gozava do convívio e da instrução dos alunos e professores das escolas de filosofia platônica, estoica, peripatética e epicuriana.

Foram as lições da escola pitagórica que apreendeu com compreensão e profundidade extraordinárias.

Apolônio não só foi um partidário da filosofia pitagórica, mas “exemplificou plenamente o lado mais divino e prático dela”.

Após os cinco anos de silêncio[i], encontramos Apolônio em Antióquia. Passou algum tempo entre os árabes e recebeu instruções deles. Devemos entender por Arábia a região ao sul da Palestina, que era neste período um pólo de atração de comunidades místicas[ii].

Apolônio parte de Antióquia e viaja para Nínive. Lá se encontra com Dâmis, que se torna seu constante companheiro e discípulo fiel.

Dâmis era um homem de uma certa instrução, que viveu por algum tempo na antiga cidade de Ninus (Nínive). Ele tornou-se um discípulo de Apolônio e registrou suas viagens, nas quais participou, e também as opiniões, palavras e previsões de seu mestre.

A caminho da Índia[iii], Apolônio visitou várias vezes os Magos da Babilônia. […] Finalmente chegam ao “mosteiro dos homens sábios”. Este mosteiro situava-se presumivelmente no Nepal. […] é provável que esses homens sábios fossem budistas. […] A ênfase da narrativa de Dâmis incide sobre o conhecimento psíquico e espiritual destes sábios.

Sua ideia central parece ter sido espalhar entre as fraternidades e instituições religiosas do Império uma parte da sabedoria que ele trouxe consigo da Índia.

Quando encontramos, no fim do primeiro século e na primeira metade do segundo, entre associações místicas como as escolas herméticas e gnósticas, ideias que nos lembram fortemente a Teosofia dos Upanishads ou a ética persuasiva dos sutras, temos sempre que levar em consideração não só a alta probabilidade de que Apolônio tenha visitado tais escolas, mas também de que, nelas, tenha discursado muitas vezes, sobre a sabedoria da Índia.

Nos domínios da religião é certo que os cultos do Estado e as instituições nacionais no Império estavam, quase sem exceção, num estado deplorável e, vale ressaltar, que Apolônio devotou muito tempo e trabalho em revigorá-las e purificá-las.

A parte mais importante de seu trabalho era consagrada àqueles que seguiam a vida interior e que já o consideravam como um instrutor do caminho oculto.

Com certeza ele deve ter se encontrado com Paulo[iv] em algum lugar, ou então em Roma, em 66.

Em 66 d.C. Nero publicou um decreto proibindo todos os filósofos de permanecerem em Roma, e Apolônio partiu para a Espanha, desembarcando em Gades, a moderna Cadiz. […] De lá viajou para a África.

Em Alexandria passou algum tempo […] iniciando então uma longa viagem, Nilo acima, até a Etiópia […], onde visitou uma interessante comunidade de ascetas chamada em termos genéricos de gimnosofistas.

Os fundadores deste modo de vida tinham sido ascetas indianos e teriam pertencido à única religião indiana que fazia proselitismo, ou seja, a budista.

A tendência dos argumentos de Apolônio é lembrar à comunidade sua origem oriental e sua ligação primitiva com a Índia, que ela parecia ter esquecido.

Não só ele viajou por todos os países em que a nova fé[v] estava lançando raiz, mas viveu por muitos anos em muitos deles e estava intimamente familiarizado com inúmeras comunidades místicas no Egito, na Arábia e na Síria.

Apolônio não foi somente um filósofo, no sentido de ser um especulador teórico.

Para ele o caminho da filosofia era uma vida em que o próprio homem tornava-se um instrumento de conhecimento.

Apolônio conhecia as coisas ocultas da natureza diretamente, e não por ter ouvido falar delas.

Para ele, sabedoria era uma forma de divinizar, ou tornar divina, toda a natureza, uma espécie de perpétuo estado de inspiração.

Ele estava ciente de todas as coisas desta natureza pela energia de seu daemon[vi][…], o lado espiritual da alma distinto do puramente humano.

Nosso filósofo era um seguidor entusiástico da disciplina pitagórica.

Considerava que a única forma pura de comida era a que a terra produzia, frutos e vegetais. Também se abstinha de vinho, pois apesar de ser feito de frutos, “ele tornava túrbido o éter da alma” e “destruía a compostura da mente”. Além disto andava descalço, deixou seu cabelo crescer e usava somente linho.

A abstenção de comer carne não era baseada simplesmente em ideias de pureza. Ela encontrava sanção adicional no amor positivo aos reinos inferiores e no horror a infligir dor a qualquer criatura viva.

Apolônio orava e meditava três vezes ao dia.

Apolônio acreditava na prece, porém de uma forma muito diferente da vulgar. Para ele era uma blasfêmia a ideia de que os Deuses podiam modificar o curso da reta justiça pelas súplicas dos homens.

Ditos:

Concedam-me, ó Deuses, ter pouco e não necessitar de nada. 

Pitágoras disse que a arte mais divina era a da cura. E se a arte da cura é a mais divina, ela deve se ocupar da alma bem como do corpo; pois nenhuma criatura pode ser saudável enquanto a parte mais elevada nele estiver doente.

Se uma pessoa disser que é meu discípulo, acrescente que também se mantém afastado das termas, que não sacrifica nenhuma coisa viva, não come carne, está livre da inveja, da maldade, do ódio, da calúnia e de sentimentos hostis e teve seu nome inscrito entre os homens que alcançaram sua liberdade.

Não há morte de ninguém, a não ser na aparência, assim como não há nascimento de ninguém, a não ser aparentemente. A mudança de ser para tornar-se parece o nascimento, e a mudança de tornar-se para ser parece a morte, mas na realidade ninguém nasce nem morre jamais. É simplesmente ser visível e então invisível; primeiramente pela densidade da matéria e, depois, devido à sutileza do ser, que é sempre o mesmo, sendo sua única alteração o movimento e o repouso.

A imaginação é uma das faculdades mais poderosas, pois ela nos capacita a chegar mais perto da realidade.

Apolônio declarou que ela [a imaginação] nos trazia mais perto do real, como Pitágoras e Platão afirmaram antes deles. […] Asseverou que os arquétipos e as ideias das coisas são as únicas realidades.

Obras:

Os Ritos Místicos ou Com Relação aos Sacrifícios – horas apropriadas para oração e oferendas.

Os Oráculos ou Sobre a Adivinhação – Filostrato parece pensar que o título completo era Adivinhação pelas Estrelas, e diz que era baseado no que Apolônio havia aprendido na Índia.

A Vida de Pitágoras – Porfírio refere-se a este trabalho, e Jâmblico cita uma longa passagem dele.

O Testamento de Apolônio – contém um resumo de suas doutrinas.

Um Hino à Memória.


[i] Voto da disciplina pitagórica.

[ii] Dentre essas comunidades, encontrava-se Qumran, a comunidade dos essênios.

[iii] Na biografia que é a base deste estudo de Mead, Filostrato informa que, ao chegar neste mosteiro, Apolônio foi chamado pelo seu próprio nome antes mesmo de se apresentar, o que indica que sua viagem para a Índia não foi feita ao acaso, mas com o propósito específico de lá chegar.

[iv] Em Atos dos Apóstolos, do Novo Testamento, Paulo de Tarso fala de um companheiro de trabalho chamado Apolo, “homem eloquente e versado nas Escrituras (…), falava e ensinava com exatidão o que se refere a Jesus”. (At 18,24-25). Em Coríntios I 3,6, lemos: “Eu plantei; Apolo regou”. Podemos pensar em um elo entre Paulo de Tarso e o grande filósofo de Tiana, cujo nome foi reduzido para Apolo em um movimento de diminuir a atenção para sua existência, visto sua influência na época foi tão grande quanto a de Jesus?

[v] O cristianismo.

[vi] Termo utilizado pelos neoplatônicos cujo conceito aproxima-se ao de atman filosofia indiana.